



É AGORA!
Sim! É agora! Vamos fazer 18 anos de (r)existência no dia 14 de Junho. Entramos, simbolicamente, na maioridade. E, finalmente, estamos na antevéspera de uma versão quase final do acordo com a Câmara Municipal de Lisboa que nos permita, finalmente, entrar na legalidade.
O Acordo que agora iremos assinar com a CML não será um aluguer por tempo indeterminado, mas um Acordo de Cedência por 10 anos, renovável por mais 5 vezes até ao limite de 50 anos. Porque a Câmara reconhece o enorme contributo que a Fábrica do Braço de Prata ofereceu à cidade de Lisboa, sem nunca termos recebido auxílio algum da Câmara, do Ministério da Cultura ou de qualquer outra instituição, concedeu-nos uma bonificação de 95% sobre a contrapartida financeira que deveríamos pagar. Por isso, pagaremos uma mensalidade de apenas 250€ por mês.
No entanto, ficamos com um enorme caderno de encargos. Para além dos mais de 150 mil euros que ao longo destes 18 anos fomos investindo na conservação e renovação do edifício – agora o acordo com a Câmara obriga-nos a um novo esforço financeiro. Teremos que fazer a renovação do sistema eléctrico, dos esgotos e canalizações, sem qualquer comparticipação do orçamento da Câmara. Prevemos anos difíceis. É verdade que, porque passaremos a ser legais, temos a expectativa de poder candidatar a Fábrica a apoios financeiros, nacionais ou europeus, que nos permitam investimentos que andarão próximos dos 200 mil euros. Mas nada disso está garantido.
Os primeiros 10 anos serão, assim, decisivos. Decisivos para a nossa sobrevivência a curto prazo, e decisivos para garantir a perpetuação desta aventura até ao ano de 2075.
Não nos podemos esquecer que uma imensa comunidade depende da existência da Fábrica. Em primeiro lugar, os milhares de músicos que, semana a semana, alimentam o nosso programa musical e que, nestes 18 anos, receberam já mais de 3 milhões de euros resultantes das nossas bilheteiras diárias, e que continuam a precisar dos nossos palcos como lugares de experimentação. Em segundo lugar, as centenas de artistas plásticos que aqui apresentaram os seus trabalhos desde 2007 e os milhares de outros criadores que contam poder continuar a fazer das nossas salas os seus cenários de aparição. Em terceiro lugar, os milhares de amigos da Fábrica que aqui já vieram jantar – solitários ou em grupo – e que já não dispensam o nosso bacalhau espiritual ou o nosso arroz de pato servidos, em salas privativas, entre colunas de som e bailes até de madrugada. Em quarto lugar todos aqueles que nas nossas salas da livraria se habituaram a descobrir as obras mais improváveis e que confiam que este vulcão de livros usados e novos será inesgotável. Por último, as dezenas de Colectividades e Associações que utilizam a Fábrica como incubadora dos seus projectos artísticos e pedagógicos, e assim consolidam os seus ideais.
Mas, mais importante do que o serviço que podemos continuar a prestar a essa imensa comunidade de centenas de milhares de pessoas que, desde 2007, fez da Fábrica a sua segunda casa, a perpetuação da nossa existência interessa também, e diretamente, a todos aqueles cidadãos que estão preocupados com o futuro do nosso país. O triunfo esmagador da direita e da extrema direita nas últimas eleições anuncia anos de chumbo para as condições de vida e de pensamento de cada um de nós. É muito provável, por isso, que a Fábrica do Braço de Prata venha a ser um dos poucos enclaves de liberdade e de autonomia num território sob ocupação de admiradores de Trump.
Agora que celebramos a nossa maioridade, os nossos 18 anos, e que entramos na legalidade por via de um Acordo de Cedência com a CML, estamos em condições de garantir que a Fábrica do Braço de Prata se manterá fiel a tudo aquilo que ela já tornou possível. Celebrar o nosso aniversário no dia 14 de Junho é participar na construção de uma trincheira que, mais do que cultural ou política, é civilizacional.
Nuno Nabais