17 anos: ainda não é desta!
No meio de mil e uma atribulações – negociações inconclusivas com a CML, movimentos de asfixia urbanística em Marvila, entrada da extrema direita para o Parlamento e para a Assembleia Municipal – chegámos aos 17 anos de vida. Ao contrário da máxima de Nietzsche, aquilo que não nos conseguiu matar não nos tornou mais fortes. Bem pelo contrário. Nunca a Fábrica esteve tão frágil. Estamos fortes na evidência de que estes 17 anos não foram impossíveis. Mas estamos frágeis diante da falência de quase todas as condições que nos tornaram possíveis.
Para alcançarmos a legalização a CML exige, como condição prévia suportada pelo nosso orçamento, a total renovação do sistema eléctrico, assim como o pagamento à E-Redes de mais de 100 mil euros de consumos anteriores de energia (que sempre considerámos serem da responsabilidade da própria CML). Em paralelo, fomos forçados pela CML a encerrar o nosso parque de autocaravanas, que contribuía significativamente para o nosso orçamento mensal. E porque continuamos a praticar o regime de atribuir aos músicos 100% da bilheteira de concertos, as nossas obrigações com os técnicos de som, a afinação dos pianos, e renovação permanente de material (pianos, mesas, cabos, micros), fazem de cada noite do programa musical uma quase ruína.
Como não somos uma Associação Cultural, mas uma empresa privada, as nossas obrigações com impostos não param de crescer (IRC, IVA, Segurança Social). E, porque ainda não fomos reconhecidos como legais pela CML, não podemos concorrer a quaisquer ajudas institucionais.
Às vezes temos dificuldade em acreditar que já andamos nestes combates há 17 anos. E 17 anos de vida são muito mais do que memórias ou imagens de alegrias e de festas. Aqui se fabricaram coisas – não armas, como antes de 1995, mas essas realidades imateriais que definem a nossa condição pós-industrial. Novas bandas, novos músicos nasceram dos mais de 60 concertos que organizámos por mês. Graças às quase mil exposições de artes plásticas que acolhemos nos nossos cenários extravagantes, muitos artistas plásticos regressaram às suas oficinas para criar obras que, antes da Fábrica, nem podiam ser sonhadas.
Por isso, talvez a extrema fragilidade que define o nosso presente seja a marca daquilo que precisamos para o próximo ano da nossa (r)existência. A Fábrica tem que ser cada vez mais a realidade das pessoas, daqueles e daquelas que se reconhecem nos nossos concertos, nas nossas exposições, nas nossas festas, nos nossos jantares de grupo.
Ainda não foi desta que entrámos na legalidade. Também ainda não foi desta que alcançámos a maioridade. Vamos então festejar estes 17 anos com a certeza de que, no próximo ano, é que vai ser.